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TEXTO CURATORIAL – PERMITIR O AFETO [EDIÇÃO RESIDÊNCIA ARTÍSTICA E ATELIÊ NAS ESCOLAS DE JN] (2024)

Canteiro do Centro Cultural e Museu Ferroviário "Professor Eliezer Pereira Ramos" e Ponto de ônibus da Praça Nossa Senhora do Líbano, João Neiva/ES

Curadoria/Texto: Dani Nogueira

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“Já pensou na alegria de uma árvore se

mil pássaros fizessem ninhos nela!

Seria a própria orquestra do amanhecer”

(Manoel de Barros)

 

 

Há anos, Rick Rodrigues exerce seu papel de artista junto ao de educador. Como um pássaro migratório, já esteve em várias cidades do Espírito Santo e do Brasil afora apresentando suas obras e compartilhando seus processos de feitura com o público. E mesmo alçando voos para lugares tão longínquos, ele sempre retorna ao seu lugar primeiro: João Neiva - ES.

 

Entre os meses de agosto e novembro de 2024, o artista passou a realizar o intenso projeto intitulado “PERMITIR O AFETO [EDIÇÃO RESIDÊNCIA ARTÍSTICA + ATELIÊ NAS ESCOLAS DE JN]”. A espinha dorsal das ações é o bordado, muito utilizado em sua carreira por remeter à cultura do têxtil, que atravessa tantas gerações e segue presente em diversos lares através de panos, toalhas e roupas, que podem ser utilitárias e objetos de recordações familiares. A linha, de forma simbólica, amarra a produção artística de Rick com os lugares, as pessoas e o saber compartilhado.

 

Sabe-se que a perpetuação de um fazer manual ocorre quando há a partilha de um conhecimento com outras pessoas. São necessários atenção, proximidade, condições e presença no presente. Assim como uma figura que é imaginada nasce a partir dos pontos, o afeto nasce e cresce dos encontros. Logo, foram pensados e realizados momentos compostos por diversas atividades, que abrangeram todas as 13 escolas da rede pública de ensino do município, sendo que em 12 delas foram instalados ateliês para que pudessem ser criadas imagens figurativas e abstratas na estrutura e com os materiais disponibilizados, e em duas delas, especificamente E.M.E.F. “Pedro Nolasco” e E.E.E.F.M. “João Neiva”, uma residência artística com cinco vivências com o próprio artista. Para isso, um trabalho de base foi realizado com uma formação com todos os professores das escolas e palestras com o tema memória afetiva de forma exclusiva para as turmas da “residência”.

 

Para pulverizar o processo e abri-lo ao público, exposições a céu aberto e em locais com importante movimentação na cidade são realizadas com as obras que foram produzidas em grandes escalas, uma delas em frente à antiga Estação Ferroviária, com as telas aramadas de dimensões 1m x 1,5m, realizadas por alunos das escolas que receberam o ateliê, e outra no ponto de ônibus da Praça Nossa Senhora do Líbano, com as duas placas de acrílico de dimensões 1,40m x 1,20m, na qual o foco foi a construção de bordado por meio do uso do ponto cruz feito pelos estudantes das outras duas escolas que trabalharam junto ao artista na residência artística.

 

É na coletividade que tudo é construído. Assim, para além das obras, a programação dessas exposições visa alcançar diversas pessoas por meio de visita guiada e de oficina ministrada por Rick Rodrigues, roda de conversa com a curadora, além de mostra do vídeo de cobertura das ações do projeto. É construída uma trama com várias mãos.

 

Paulo Freire disse que ele se move como educador porque, primeiro, se move como gente. Percebamos que é no movimento e nas trocas que Rick Rodrigues se torna educador; que o aluno se torna artista; que o professor se torna aluno e vice-versa. É exercida a liberdade de ser e de alçar novos voos. Quem já pensou na alegria de uma cidade se milhares de pessoas fizessem obras nela?!

 

Por que não sermos uma revoada?

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Dani Nogueira.

Artista visual, musicista e mestra em Artes

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