TEXTO CURATORIAL – EXPOSIÇÃO [QUASE] UM LAR PARA HABITAR (2017)
Galeria CORREDOR, Vitória/ES
Texto: Daniellen Nogueira
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Há dois anos, Rick Rodrigues incorporou o bordado em sua produção. A partir do uso constante do papel e do grafite no desvelamento de suas memórias, que tomam forma nas várias espessuras dos traços, na polidez do desenho e nos volumes com degradês, ele iniciou a mescla da linha traçada com a bordada.
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Em “[quase] um lar para habitar”, testemunhamos a presença da palavra em sua poética, a tridimensionalidade e a exposição de trabalhos inéditos pelas variadas dimensões dos suportes e materialidades, bem como pela quase predominância da figura do pássaro e o uso do ponto cheio.
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No atravessamento das camadas de lembranças, o intangível é materializado pelo artista e trazido de forma sutil e delicada através de elementos que, recorrentes em sua produção, parecem ser alinhavados e adquirem novos significados, criam novos cenários e dialogam com uma característica da memória: a mutabilidade.
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Como, uma vez, disse o artista: “Nem sempre o que parece bonito, é leve”. Logo, a evocação do que é íntimo e o seu esmiuçar nos alude ao ato de bordar, pois é no esgarçar das fibras, incisão, transposição e no retorno à superfície que uma imagem é gerada.
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Pelas idas e vindas, imersão e submersão, memória e presente, a presença dos pássaros, os personagens e suas casas seriam a indicação da tentativa de retorno ao ninho primeiro ou a saída em uma ampliação de horizontes? Em meio aos diversos sentidos possíveis o próprio artista dá-nos a dica: “Habito-me”. O corpo torna-se o próprio abrigo.