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TEXTO CURATORIAL – EXPOSIÇÃO TUDO O QUE NÃO INVENTO É FALSO (2016)

Galeria Homero Massena, Vitória/ES

Texto: Carlos Borges
 

O MENINO QUE DESENHAVA

 

Cresceu, pintou, bordou e continua desenhando.  Outro menino, Rubem Braga, escreveu um dia: “Eu quisera ser um passarinho”. Rick nos convida a experimentar ser pássaro e passear livremente por seu universo. Ver e viver suas recordações. Ele nos apresenta seus pássaros, suas casas, seus móveis, escadas e suas imprevisíveis aberturas, que lembram as “passagens secretas” dos jogos de esconde-esconde infantis.

 

Seu sonho tão delicadamente real, seu mundo enigmático, na linha de René Magritte, também nos convida a criar possíveis narrativas ao adentrar seus jogos visuais. Subir, descer, voar, flutuar, diminuir, aumentar, escrever, desenhar... os mundos de Rick são um e vários. Podemos passar de um a outro, como se os “buracos de minhoca” teorizados pela física contemporânea já existissem desde sempre na sua imaginação e fossem aqui usados com assustadora naturalidade, tornando possível a viagem entre tempos e locais muito distantes.

 

Mas, além disso, seu trabalho, construído ao longo de horas e horas desenhando, também abre passagens para nossas recordações e nossos planos. Seu universo próprio, verdadeiro e denso nos incentiva a sonhar, viver a experiência de nossos mundos imaginários, dando vida à criança que faz de todos nós meninos e meninas. Talvez exista aqui uma relação direta entre o desenho atual e a era digital.

 

Desenho ligado à formação nas telas de múltiplas imagens simultâneas, cada vez mais presentes no nosso cotidiano. Ainda que na tela de computadores acessados de João Neiva, de um tempo-espaço retirado, estriado, único e múltiplo. Uma vivência de interior, porém conectada com o mundo.

 

Na mostra as pranchas são distribuídas em relação ao observador de modo semelhante àquele como é disposto o espelho para Alice. Ao atravessarmos o seu limiar, somos levados a um universo paralelo, desafiando as narrativas a se formarem, circularem e a nunca se esgotarem na sua soma das infinitas interpretações. Se entre as experiências para as quais nos convocam existe o convite a se sentir um Gulliver, ao mesmo tempo essa sensação indutora é sabotada por essa colocação das propostas; não no chão, mas a uma altura confortável. Tirando mesmo proveito dessa comodidade para refletir nesses objetos, lembranças e projeções de nossos lares, de nossas infâncias, de nossas vidas e afeições. Uma relação, telúrica e misteriosa que permeia os desenhos e objetos e termina por nos envolver.

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